“— A posição do corpo foi exatamente essa. Matamos a charada: ele tira fotos de gente morta. Era um costume comum, dois séculos atrás, que voltou à moda nas primeiras décadas do século XXI.
— Que tipo de costume era esse?
— Colocar os mortos em determinada pose, com uma aura de paz e quietude, e depois tirar fotos deles. As pessoas mantinham essas recordações em álbuns específicos para isso.
— Eu sempre me espanto com o quanto as pessoas podem ser doentes da cabeça.
— Não era uma tara. A finalidade era trazer consolo e boas recordações para as pessoas que ficavam. (...)
— Ela não lutou, ou não teve como fazer isso. Ela o conhecia e confiava nele, ou estava incapacitada para reagir. Então ele a transportou para o lugar onde a fotografou. — Eve guardou a foto novamente na bolsa. — Ela já estava morta, ou ele a matou no local.
Aposto nessa segunda hipótese. Colocou um curativo para ela não sangrar e sujar a blusa na hora do retrato, montou uma pose bonita e tirou as fotos. Depois, tornou a carregá-la e a jogou em um reciclador de lixo em frente à loja onde ela trabalhava.
Eve começou a caminhar de um lado para outro.
— Talvez o assassino seja alguém da vizinhança. Alguém que a via todos os dias e criou uma obsessão por ela. Não de cunho sexual, mas certamente uma obsessão. Ele tira fotos dela, segue-a por toda parte. Costuma fazer compras na loja, mas ela não vê nada de estranho nisso. Ela é simpática e provavelmente o conhece pelo nome. Ou então é algum colega de faculdade. Tem um rosto familiar para ela, um rosto confiável. Talvez ele lhe ofereça uma carona para casa
ou para a faculdade. De um jeito ou de outro, ele a pega.
‘Ela conhecia o rosto dele’, murmurou Eve, quase para si mesma. ‘E ele também conhecia muito bem o rosto dela.’”
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