“ ’Coma’, ele insistia em dizer. ‘Coma’, mas eu não vou comer. Se acaso o fizer, corro o risco de ficar presa aqui para sempre, e nem com fome estou. Ele me deixa em paz quando grito com ele; não gosta disso. Para além da porta do quarto, há corredores infindáveis. Já os explorei por quilômetros. Pelo menos, acho que sim. Todos eles são iguais — pavimentados com lajes e cobertos de teias de aranha. Vazios. Há sons no prédio. Ecoam ao longe, mas não sei que sons são esses. Às vezes, deparo com uma janela e tiro o pó de minúsculas vidraças a fim de visualizar o lado de fora. É difícil ter certeza, mas o céu aqui parece um crepúsculo soturno, indistinto. Nunca escurece ou clareia, mas há estrelas pouco cintilantes em constelações estranhas, bilhões delas. O que mais me assusta, porém, são as árvores. Há árvores por toda a parte. Entrelaçadas e verdes, forçando-se contra a parede, em ascensão, batendo nos vidros. Como se quisessem entrar.” (p. 7)
“Eu estava montada no lombo de Callie e descíamos a trilha que dava na pista. Algo apareceu. Não era um carro. Ou será que era? Aquilo era grande e escuro e nós o transpusemos como se fosse um pórtico; e, quando eu desci do cavalo, o homem esperava do outro lado, no pátio desta edificação. ‘Seja bem-vinda ao Castelo Real, Chloe’, disse ele. Esse sujeito sempre usa uma máscara feita de folhas de sorveira-brava e frutas vermelhas. Seus olhos me espreitam com cuidado.
Acho... Bem, acho possível que eu esteja morta.” (p. 21)
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