sexta-feira, 2 de julho de 2010

Olhos de Falcão, por Ademar Júnior.


O site Coolturalblog (http://coolturalblog.wordpress.com) publicou no dia 26/05/10 uma resenha ótima sobre o livro 'Olhos de Falcão', de Alex Barclay. Vamos reproduzir aqui o texto escrito por Ademar Júnior!


Já ouviram aquele ditado “a vingança é um prato que se come frio”? Pois é, isso não é à toa, uma boa vingança deve ser bem premeditada, nos mínimos detalhes e sua degustação deve ser lenta. Pelo menos é assim que pensa o vilão do livro Olhos de Falcão (Darkhouse, 2005), da irlandesa Alex Barclay. Este é o romance de estreia da autora, que surge sem muitos mistérios, mas que, mesmo assim, consegue prender o leitor até a última de suas quase quinhentas páginas. Aqui é também a primeira história com o detetive Joe Lucchesi.


O enredo do livro é um pouco complicado e é também repleto de personagens. Mas nada como ler o livro com sua devida atenção para ficar ciente de tudo que se passa. Primeiramente somos apresentados a uma ação da Polícia de Nova York, onde Joe está atuando e acaba assassinando o fugitivo. Depois somos levados ao passado (em 1978) na infância de Donnie Riggs e Duke Rawlins, dois amigos, que passam por problemas familiares sérios e que encontram um no outro o apoio e o abrigo que precisam. Como é do conhecimento de todos, certos atos na infância influenciam aonde se vai chegar no futuro. A opressão sobre Duke serviu para torná-lo uma pessoa insana, nesse caso dobrada por causa do pacto que fez com seu amigo Donnie. Junto com a amizade entre os dois, surge também um amor muito grande pelos Falcões de Harris e a arte da falcoaria.


Após o episódio trágico em Nova York, Joe deixa o Departamento de Polícia e vai com sua família para Irlanda. E o que parece ser apenas descanso profissional acaba sendo interrompido e se torna um pesadelo. Tudo o que eu disse até aqui nem pode ser considerado Spoiller, pois a própria autora não faz muito segredo em relação aos fatos do livro, somos apresentados aos dois lados simultaneamente. Ela intercala os capítulos entre presente e passado e nos permite avaliar de forma imparcial o caso.


Duke vai atrás de Joe em busca de vingança pelo assassinato do seu amigo. Mas isso não é tudo. Coisas estranhas começam a acontecer. Tudo sem explicação. Joe tenta por conta própria solucionar o mistério para parece que todos os caminhos levam a lugar nenhum.


Se acham que já revelei tudo dizendo que Joe é o detetive e Duke o assassino, se enganam. Duke não é a única incógnita desse romance policial. Há muitas coisas sem explicações, muitas pontas soltas e são essas pontas que nos seguram na leitura. Pois todas as ligações só se revelam no final. E acredite, Alex nos surpreende.


Duke é o tipo de personagem cínico sem escrúpulos, um serial killer nato. Mas o mais interessante é que a autora nos permite pensar sobre quem é bom ou ruim. Pelo que dá pra ver, todos possuímos um pouco dos dois lados e nós mesmo decidimos o que fazer, seja por escolha própria no presente ou por consequências de decisões do passado, diga-se pelo final que não segue os padrões de felicidade aos bons e punição aos maus.


Para enriquecer a trama, ela acrescenta elementos muito interessantes e a questão dos falcões é apenas uma delas. O bucolismo do vilarejo, Anna (mulher de Joe), a designer de interiores que tenta a sorte para trabalhar na Vogue, os problemas adolescentes e adultos, tudo é bem abordado com peculiaridade. A ironia britânica parece ser intrínseca de todos os personagens.


Ela preserva também a ironia sutil com os americanos, nos dando também momentos de humor negro. Destaco ainda a questão da entomologia que, apesar de aparecer pouco, chama a atenção por ser muito interessante e fica como dica para ser mais abordada nos romances policiais.


Como ponto negativo, digo que o romance só não flui mais rápido por causa da narrativa multifocal que a autora usa. Fazendo inúmeras interrupções nas cenas. Se por um lado isso segura o leitor que deseja saber o desfecho, por outro nos irrita pela frequência com que acontece.


Joe Lucchesi também protagoniza seu segundo romance The Caller, mas nesse o cenário é Nova York, onde nosso detetive se ver de volta ao trabalho enfrentando um caso macabro. Além desses, ela também já escreveu Last Call e Blood Runs Cold. Se Olhos de Falcão (Bertrand Brasil, 448 pág.) mesmo sendo a estréia da autora já se mostra um excelente livro, ficamos na espera (confirmada pela editora) pelos outros livros de Alex.


Recomendo este, só pra começar!

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